Seu filho está na fase de alfabetização e você percebeu que ele não gosta de ler, e agora o que fazer para tentar ajudá-lo a sentir prazer na leitura?
Esses dias eu estava lendo a revista ‘Escola’ que está na vanguarda em termos de educação, de acordo com os padrões do mundo, é claro, mas ainda um tanto longe dos padrões de Deus. Eles seguem de perto os requisitos governamentais e as escolas que fazem inovações que funcionam. Mesmo para escolas eles comentam que estes são uns dos passos mais importantes para alfabetização: estarem familiarizados com a linguagem escrita (em termos de ver e ouvir) e acima de tudo gostar de ler.
Se seu filho não está gostando de ler, dê a ele um jejum. Isto é, procure não forçá-lo a ler por um tempo. Estudando sobre o jejum de comida aprendi que eliminar toda a comida e só tomar água (jejum completo) ou tomar só sucos frescos e coisa assim, não só promove a desoxidação do corpo e clarifica a mente, mas reajusta o paladar. Isto é, sua sensibilidade aumenta e você não só consegue sentir mais sabor e prazer nos alimentos naturais mas consegue a perceber o sabor dos químicos nos alimentos processados, bem como ser incomodado por pimentas e outros estimulante ou temperos fortes. O jejum traz novo prazer à comida simples. Não estou dizendo para parar de ler para ele, mas talvez dar um tempo com relação ao treino da leitura dele.
Quando meu filho era pequeno, começou a ajuntar as letras e ler algumas palavras, achei que na semana seguinte estaria lendo pois. Foi aí que ele pareceu perder o interesse pela coisa. Foi frustrante para mim. Meses depois, acho que pelo menos 6 meses, ele trouxe um dos livros da coleção ‘Meus Amigos da Bíblia’ e disse que ia ler pra mim. E leu mesmo! Não leu o capítulo todo pois cansou e eu terminei. Mas dai em diante não parou mais. Com isso quero dizer que eles podem ter a capacidade mas ainda ser muito difícil o processo em si e por isso, muitas vezes, a dificuldade na compreensão do que estão lendo.
A aprendizagem não é linear como parece, mas se dá aos saltos, por assim dizer. Como na alimentação, você consome o alimento, mas nem por isso ele está à sua disposição para usar imediatamente. Demora muitas horas para ele estar pronto para cair na corrente sanguínea e entrar nas células, sendo assim assimilado pelo corpo. Há todo um processo de digestão entre a ingestão do alimento e ele fazer parte de você. A primeira parte é consciente – o comer em si; a digestão acontece fora das nossas vistas e sem nossa interferência. Só depois de um tempo temos o benefício completo do que estava acontecendo silenciosamente lá dentro. Aliás, depois de comer podemos até ficar mais inativos devido ao esforço interno do processo digestivo.
Um famoso estudioso do desenvolvimento infantil, Jean Piaget, explica o desenvolvimento mental dentro desses parâmetros – assimilação e acomodação. A ciência dele foi de primeira mão, isto é, de observar e anotar minuciosamente o desenvolvimento de seus 3 filhos, bem como estudar outras crianças. Suas conclusões são muito compatíveis com as orientações do livros de Ellen G. White. Na prática eu teria algumas sugestões:
1- Dê um tempo para seu filho, com relação ao treino da leitura em si. Aproveite para trabalhar outras áreas como por exemplo, estudando ciência, de primeira mão – através da natureza e experimentos – e de segunda mão – através de livros interessantes. Vocês podem trabalhar matemática na vida diária e através de jogos. Podem ler biografias de pessoas de caráter nobre, escritas para crianças. Podem estudar geografia fazendo montanhas, lagos, fiordes, ilhas e etc em areia ou terra. Podem visitar fábricas ou artesãos para ver como as coisas são feitas (Superbom, Casa Publicadora, uma costureira ou alfaiate, sapateiro, padaria na área aonde fazem pães e quitutes e etc). Aproveitando a oportunidade podem começar a aprender a costurar, fazer pão, tricô (visitar a cidade do tricô, Mt. Sião), crochê ou bordado de tela, por exemplo.
2- Caso seu filho tenha o costume de assistir filmes, TV e Internet, jogos eletrônicos, lembre-se que estas coisas tiram o interesse pela leitura e a capacidade de concentração. Aliás todo material tipo conto de fadas e ficção tira o interesse e gosto pelo natural e pelas coisas espirituais como a Bíblia. (Leia o capítulo 37 ‘O Falso e o Verdadeiro na Educação’ no livro Ciência do Bom Viver, ou o capítulo 15 ‘Que Lerão Nossos Filhos’ no livroConselhos aos Professores, Pais e Estudantes.)
3- Comente sobre coisas interessantes que está lendo, em linguagem acessível e interessante para as crianças. Deixe que ele veja seu entusiasmo por seus livros e comente o quanto você gostaria de poder estar lendo... Quando meu filhos eram pequenos eu os lavava para o parquinho ou saía lá fora com eles e sempre tinha um livro comigo, caso me sobrasse um tempinho para ler... Na verdade não saio de casa sem um livro e sempre sugeria que eles trouxessem alguns para olhar no carro ou quando estivessem sem ter o que fazer.
3- Leia livros verdadeiros e de área de interesse deles – caminhões, animais, crianças, histórias e etc. Pegue livro com ilustrações bonitas ou interessantes e discutam as ilustrações. Às vezes as ilustrações são mais interessantes que o texto. Nesse caso nem precisam ler o texto. Fazíamos muito disso com a Revista Geográfica.
4- Visite bibliotecas, sebos e livrarias e faça disso um tempinho agradável. Além de eles estarem rodeados de livros eles vêem seu interesse e lhe dá oportunidade de achar livros bons para a idade deles agora e para mais tarde. Em todo lugar que eu ia eu procurava essas e as livrarias religiosas em busca de livros. Os livros em si você pode checar na Internet também, mas a experiência de sentar e caçar “tesouros” é muito boa e faz dos livros exatamente isso – tesouros.
5- Procure por momentos tranquilos para sentar com seus filhos (ou um de cada vez) e ler com eles (para eles). Essas são horas gostosas pra se aconchegarem no sofá, no tapete, na cama, no gramado ou na rede e curtirem juntos um livro. Viajarem juntos no espaço e no tempo. Não precisam terminar o livro. Quem tiver um pensamento ou pergunta pode interromper. Podem se colocar na situação da pessoa e imaginar o que fariam. Podem sair procurando aquele tipo de formiga ou planta que viram no livro. Podem tentar copiar a ilustração ou fazer uma como a do livro (só com lápis, lápis de cor, guache, colagem ou fotografia).
As crianças no colo ou a gente com o braço no ombro deles, lendo juntos, dando risada, chorando, fazendo o som dos bichos do livro, ou cantando uma canção que nos veio à memória, faz esses momentos memoráveis – na mente e no coração. Faz do livro um companheiro de viagem para países distantes com missionários e exploradores; uma porta no tempo para visitar o passado e ouvir as histórias de quem fez a história e perceber que todos nós temos uma história, que todos nós fazemos história. O diário, nosso álbum de fotografia, nossos documentos, nosso Facebook ou WhatsApp são história – nossa história. Nossa vida é uma história sendo escrita a cada ato e cada palavra, dita ou calada, fazendo uma foto perfeita de quem somos de verdade; nos livros do Céu e aos olhos dos outros ao nosso redor. Mas acima de tudo conte as histórias da Bíblia com todo o entusiasmo. Leia versos que eles possam entender e comente quão lindos são. Fale pra eles que um dia terão o prazer de ler por eles mesmos e descobrir muito mais.
De vez em quando, ao terminar uma história de um livro, comente sobre a próxima que é mais legal ainda, mas que agora você não vai poder ler pois tem algo mais para fazer. Outro dia pare no meio da história, na parte mais interessante, e diga que acabou o tempo da leitura, mas que quando eles souberem ler podem terminar sozinhos quando a mamãe não puder continuar. Se eles ficarem muito chateados peça que a ajude no trabalho para poderem voltar logo para terminar. Jogue a semente da vantagem de poderem ler por si mesmos, enquanto você espera paciente, mas ativamente, pelo amadurecimento (“digestão”) deles. Boa leitura para vocês!
Silvia Martins